Sugestões para o controle da malária em Anajás, na ilha de Marajó, no Pará.
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Apesar de alguns meses que se foram, Anajás continua na luta contra a malária que acomete seu povo. A sensação é de que a malária em Anajás caminha com o esforço suas curtas, poucas e próprias pernas. Todos os anajaenses praticamente já contraíram malária alguma vez ou algumas dezenas de vezes na vida. O vídeo nos mostra o registro de criança com 11 meses de vida que já contraiu 15 malárias, esse recém nato ainda não sabe o que é uma vida saudável, sem doenças. É estarrecedor ver isso à luz de tanto conhecimento e de tantos recursos. Os poucos serviços assistenciais e médicos para malária em Anajás e em Belém do Pará acabam por estar realizando um trabalho sem fim. Quanto mais diagnosticam e tratam malária, mais malária têm para diagnosticar e tratar. Anajás precisa de muitas lideranças, principalmente lideranças comunitárias comprometidas com o controle de doenças de seu povo. Precisa de um exército de bons brasileiros para realizarem o que chamamos em epidemiologia de trabalhos de campo para romper o ciclo de várias doenças. É estratégia e controle ir atrás de sintomáticos e assintomáticos de malária e encaminhá-los para diagnóstico, tratamento e isolamento até a cura total, retirando-os das áreas de transmissão. Que tal a construção de um hospital-hotel biosseguro com muitos quartos telados, laboratório, farmácia, lavanderia e serviço de nutrição para abrigar, tratar e retirar das áreas de transmissão os anajaenses com malária com a maior dignidade e conforto do mundo? Estratégias de toda ordem podem ser estabelecidas. Criar canais de informação sobre a doença para a população, aumentar o número de laboratórios volantes, ou até mesmo treinar voluntários das comunidades mais distantes para diagnosticar malária, mapear criadouros para serem trabalhados, orientar e informar quem chega e quem sai de Anajás são outras estratégias importantes que não podem ser esquecidas. A população de mosquitos transmissores de malária pode e deve ser reduzida, principalmente onde há ocorrências de casos. Um fato, é impossível erradicar os mosquitos transmissores de malária em Anajás e na Amazônia, e nem precisamos erradicá-los para ter a malária sob controle. Os amazônidas e nós do sudeste teremos que conviver com esses mosquitos enquanto houver chuva, água, vida, floresta, áreas alagadas, luta pela sobrevivência, manutenção e preservação de espécies. Os seres vivos se adaptam a todas as mudanças e às mais adversas condições de vida, e nós também. Tratar adequadamente e isolar dos mosquitos transmissores os pacientes doentes, não só é possível como também é a única medida de impacto importante para reduzir a transmissão da doença em Anajás ou em qualquer outra área endêmica da Amazônia ou do planeta. Possívelmente essa criança e seus familiares que tiveram múltiplas malárias foram fontes de infecção para mosquitos transmissores e receptores de Plasmodium dos mesmos mosquitos. É um ciclo que não se rompeu. Com relação ao controle possível dos mosquitos transmissores, o uso de inseticida tipo fumacê ou fog pode ser usado para bloqueio de transmissão em áreas urbanas ou urbanizadas onde ocorreram casos. O uso dessa forma de inseticida não deve ser utilizado em áreas de mata preservada, pois provoca desequilíbrios ambientais influenciando na cadeia alimentar de outros seres. Usar inseticidas em casas com paredes protegidas da chuva tem também sua eficiência, lembrando que inseticidas são produtos que têm níveis de toxicidade para o homem. Essas estratégias reduzem a população de mosquitos alados infectados onde ocorreram ou ocorrem casos da doença. É importante destruí-los, para que não ocorram novos casos. Para que um mosquito da malária se infecte é preciso que eles se alimentem com o sangue de pacientes doentes com malária ou pacientes tratados inadequadamente. O plasmodium não é repassado de uma geração de mosquitos para outra. Já de um mosquito transmissor de dengue infectado com o vírus da dengue nascem centenas de novos mosquitos igualmente infectados. Em resumo, é muito mais fácil controlar malária do que dengue sob esse ponto de vista. Em todas as doenças cuja transmissão se dá pela picada de mosquitos, o homem doente exposto ao mosquito transmissor assegura o não rompimento do ciclo evolutivo da doença. O tratamento alternativo apresentado no vídeo equivale a dar ao paciente o medicamento que se tem disponível e não o que realmente o paciente necessita para seu tratamento e cura. Sem comentários no que se refere a usar medicamentos dessa forma em termos de controle, tratamento, legalidade, responsabilidade e ética... Se ocorrem casos de malária em determinada região é porque há mosquitos infectados com o Plasmodium em circulação e doentes sem diagnóstico e tratamento ou doentes assintomáticos expostos a mosquitos transmissores. Com relação aos ovos e larvas de mosquitos, a aspersão de inseticidas no ambiente não destrói essas formas evolutivas do mosquito simplesmente porque estão na água. Colocar peixes ou criar muitos peixes em áreas alagadas retirando a vegetação das margens favorece a alimentação dos peixes com as larvas de mosquitos, o que faz diminuir a população de alados. É exatamente no meio dessa vegetação nas margens que os mosquitos colocam seus ovos, que possuem flutuadores e tomam a cor do ambiente para se preservarem de seus predadores. As larvas de mosquitos têm outros numerosos e eficientes predadores, como larvas de outros insetos aquáticos. As larvas das lavadeiras, aquele inseto com dois pares de asas são excelentes e vorazes predadores de larvas de mosquitos. Para cada criadouro identificado, usar sempre a melhor estratégia, ou escoando águas paradas através de canais, ou aterrar criadouros pequenos, ou colocar peixes com margens limpas de vegetação em ambientes aquáticos maiores, ou até outras que não agridam o meio ambiente. Sempre há algo que possa ser feito para que o criadouro perca essa função. A principal estratégia e meta deve ser destruir os mosquitos alados infectados onde ocorreram casos, tratar e isolar da picada de mosquitos pacientes sintomáticos e assintomáticos de malária para romper o ciclo da doença. Enquanto tiver alguém com malária em Anajás exposto a mosquitos transmissores, o ciclo da doença não se rompe e os anajaenses continuarão a colecionar suas malárias, suas febres, seus calafrios, suas dores e sofrimentos, suas semanas sem trabalho, seus dias sem aulas e seus óbitos. Já passou da hora dos anajaenses se indignarem com tantos casos de malária. Esperamos que nos ouçam e que ajudem Anajás se tornar referência para os outros municípios da Amazônia e para outras áreas endêmicas no controle de suas doenças. O controle é algo possível e ninguém precisa contrair e muito menos morrer de malária. Os Anajaenses podem conviver com os mosquitos transmissores de malária e sem malária, como nós aqui do sudeste convivemos com nossos Anopheles aquasalis, darlingi, cruzii e outros. Afinal somos todos igualmente brasileiros e certamente os anajaenses aumentarão seu número de parceiros nesses desafios! Com a palavra todos aqueles que se sentirem movidos pelo sentimento de ajudar Anajás a controlar suas epidemias e suas endemias. O momento e o desafio é o de dar uma chance ou uma mãozinha prá vida. Wanir Barroso, sanitarista.
Anajás e os anajaenses aguardam pelo seu contato!
Email da Secretaria Municipal de Saúde de Anajás: smsanajas@yahoo.com.br
Fone/Fax: (91) 3605-1123
Oeiras no Pará também continua pedindo socorro.
Entrevista:
O perigoso silêncio: malária mata mais fora da Amazônia, revela especialista
Por Isabela Pimentel
http://luispeaze.com/2010/perigo-maior-em-copacabana-do-que-na-amazonia
"Silenciosamente a malária atinge meio bilhão de pessoas no planeta todos os anos e leva ao óbito centenas de milhares delas, silenciando principalmente crianças. Suas principais causas são o retardo de diagnóstico e de tratamento, a desinformação sobre a doença e o nosso silêncio! Para contrair a doença basta ser picado por um mosquito Anopheles infectado e para um mosquito se infectar basta picar alguém doente. Sem doentes não temos mosquitos infectados nem transmissão de malária."WBarroso
domingo, 17 de julho de 2011
A triste realidade da malária na Amazônia brasileira. ANAJÁS no Pará continua pedindo socorro!
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